Hoje não me apetece falar com ninguém, sou só eu a desabafar bem alto com alguém que nas redondezas possa receber a minha mensagem, que chegue até alguém guiada pelo vento. Deitado, observando a noite a passar, procuro uma única estrela no céu que me guie neste dia chuvoso. Fecho os olhos e oiço o maravilhoso silêncio da noite, que ao dar por mim, percebo que é bem mais barulhento do que alguma vez imaginava. Sinto a noite a manifestar-se e a mostrar sinais de medo, razões para que a deva-mos temer, pois no meio desta neblina intensa nunca sabemos o que estar à espera no final do caminho. Sinto arrepios, sinto o medo a manifestar-se pelo meu corpo fora. Este vento, esta brisa, parece que ao passar leva consigo a minha alma e com ela todo o meu feitio e maneira de ser, tudo aquilo que eu sou e tudo aquilo em que me tornei. Ao tentar ser o melhor que posso para ti acabei por me tornar no pior, mesmo sem ser essa a minha intenção. No meio desta noite, preciso de uma guia, de um sinal de segurança, uma luz que me mostre o caminho e diga o que devo fazer, como posso eu transformar o que vai na minha cabeça em acções e ser aquilo que tu queres que eu seja. Acho que não há nada a fazer, milagres não se realizam assim do nada. Vou simplesmente levantar-me, abrir os braços, fechar os olhos, e deixar possuir completamente pela escuridão desta noite tão perfeita.